29.9.07

Canções na memória (XIV)




Days (The Kinks, 1969)

Thank you for the days,
Those endless days, those sacred days you gave me.
I'm thinking of the days,
I wont forget a single day, believe me.

I bless the light,
I bless the light that lights on you believe me.
And though you're gone,
You're with me every single day, believe me.

Days I'll remember all my life,
Days when you cant see wrong from right.
You took my life,
But then I knew that very soon youd leave me,
But its all right,
Now Im not frightened of this world, believe me.

I wish today could be tomorrow,
The night is dark,
It just brings sorrow anyway.

Thank you for the days,
Those endless days, those sacred days you gave me.
I'm thinking of the days,
I wont forget a single day, believe me.

Days I'll remember all my life,
Days when you cant see wrong from right.
You took my life,
But then I knew that very soon youd leave me,
But it's all right,
Now I'm not frightened of this world, believe me.
Days.

Thank you for the days,
Those endless days, those sacred days you gave me.
I'm thinking of the days,
I wont forget a single day, believe me.

I bless the light,
I bless the light that shines on you believe me.
And though youre gone,
Youre with me every single day, believe me.
Days.

28.9.07

Mais um sapato vermelho

Depois destes e destes, algum candidato para ESTE?


Lido e sublinhado (28/9)

José Medeiros Ferreira em Bicho Carpinteiro:
«A RTP desdobra-se para se comemorar a si própria neste cinquentenário. A visita da Rainha Isabel II a Portugal e a erupção do vulcão dos Capelinhos servem às mil maravilhas para esse repetido propósito. (...) Hoje deu-se no entanto um passo em frente na recuperação das forças que apoiaram o sistema repressivo da ditadura: foi sublinhado o papel desempenhado pela Legião Portuguesa no apoio às populações da zona sinistrada da ilha do Faial.»[mais].

Eduardo Pitta em Da Literatura:
«António Lobo Antunes, em entrevista à Visão: “Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde”.» [mais].

Júlio Machado Vaz em Murcon:
«Apaixonaram-se na net e agora sentem-se traídos. Estão a divorciar-se. Um casal bósnio está a divorciar-se depois de descobrir que eram amantes um do outro na Internet.» [mais] - a não perder.

27.9.07

Assim vai a caridade cristã

O governo espanhol pretende atribuir um subsídio de nascimento de mais 1 000 euros às famílias monoparentais – caso típico das mães solteiras (3 500 em vez de 2 500 euros).

A Conferência Episcopal opõe-se frontalmente, afirmando que «ninguém achará bem que se promova que os filhos venham ao mundo sem pai ou sem mãe». Criticam que o governo patrocine o nascimento de crianças sem «condições óptimas»: «Um pai e uma mãe conhecidos, que se amam e que estão unidos por um pacto estável e permanente» .

Pode ser que me engane, mas penso que, quanto a bispos, nuestros hermanos não estão melhor do que nós.


Ler a notícia em Público, novo jornal espanhol a não ignorar.

26.9.07

Os ciclópicos trabalhos



O discurso da tomada de posse de Marcelo Caetano como presidente do Conselho de Ministros, em 27 de Setembro de 1968, ficará para sempre associado a uma frase:


«Não me falta ânimo para enfrentar os ciclópicos trabalhos que antevejo»
.

Nuno Bragança comentou então:
«Referir-se-ia ele ao gigantismo dos ciclopes ou à característica monocular dos mesmos? Creio que foi de António Sérgio a conhecida e terrível frase: "O drama de Portugal não está em que nele reine quem tiver um olho só, mas no facto de alguns arrancarem um dos olhos para poder reinar".» (*)


Há coisas que não mudam.

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(*) In O Tempo e o Modo, nº 62-63, Outubro de 1968.

Plenários na clandestinidade (2)

Vítor Dias deixou o seguinte texto na caixa de comentários ao meu post. Pela sua importância, dou-lhe «vida própria» e respondo-lhe aqui.

Aproveito para agradecer muito sinceramente ao autor: razão tinha eu para pedir ajuda no esclarecimento das razões da cisão no plenário de 73. Acho que VD resume muito bem o que era, de facto, o fundo da questão, embora as razões que eu aponto também estivessem presentes.

Duas notas para VD:
1 – Não conheço – e gostava de conhecer – o depoimento de Jorge Sampaio de que fala. Sabe onde pode ser encontrado?
3 – A referência a Pedro Coelho foi feita por João Tunes num comentário ao post e ele situa-o claramente entre os «futuros socialistas» e não no grupo que abandonou o plenário.

«Em termos muito abreviados, gostaria de dar um testemunho parcial sobre o plenário de Santa Cruz em que, por sinal, fui o último orador a falar.

E venho sobretudo discordar da visão de Joana Lopes segundo a qual o que aí se passou «girava, como sempre, à volta de questões de representatividade e de resistência ao que era interpretado como imposição de hegemonia por parte do PCP e suas franjas».
Creio que isso é ver só a superfície das coisas. É certo que na CDE de Lisboa tinha havido um aceso debate em torno de questões organizativas e funcionamento, mas o que pesou decisivamente no afastamento daquele grupo ou corrente do movimento de unidade eleitoral foi a circunstância dessa corrente ter entrado num processo de radicalização política que desvalorizava a intervenção eleitoral como forma de luta e contestava a centralidade da tónica antifascista (insistindo numa tónica de luta pelo socialismo).

Foi, em termos de orientações e ideologia, um abandono ou uma saída «pela esquerda» em relação ao PCP para já não falar que esse grupo não apreciava especialmente a participação do PS nesse esforço de 73 até porque tinha sido bastante activo na polémica com a ASP/CEUD em 69.

Bata ler um honesto depoimento que Jorge Sampaio (que também falou no plenário de Santa Cruz) fez para um jornal por volta dos 30 anos do Congresso de Aveiro de 73 (onde não foi) para se perceber que as raizes das divergências eram pelo menos muito próximas da natureza das que eu procurei descrever.

Pareceu-me que alguém deu o Pedro Coelho como sendo dos que abandonaram o plenário mas isso é completamente falso, pois honra lhe seja feita, e calcular-se-á que sei do que falo, foi ele e o Arons de Carvalho que tiveram um grande papel para que se não repetisse a divisão de 69.»

25.9.07

Contrabando de almas

A notícia vem no Correio da Manhã de hoje e já foi comentada pelo menos aqui.

A história resume-se facilmente:
- Em Portugal, a pensão de viuvez prescreve se o cônjuge sobrevivente voltar a casar.
- Alguns viúvos caem na tentação de se apaixonar outra vez, mas não querem – ou não podem – perder a pensão. No entanto se, azar dos azares, são católicos, precisam que a Igreja os case. Ou seja: ou perdem a pensão ou são excomungados.
- Com décadas de experiência de contrabando fronteiriço, alguns descobriram que, em Espanha, o casamento religioso não tem efeitos civis e meteram-se a caminho – sem terem agora de o fazer a salto, bastando-lhes ir rapidamente a Vigo ou a Badajoz. Em vez de caramelos, passaram a trazer almas consoladas e mantiveram um B.I. português legalmente enviuvado.

Aparentemente, precisavam de uma qualquer autorização das autoridades eclesiásticas da sua área de residência em Portugal para que as espanholas os casassem. Aquelas (as portuguesas) descobriram o esquema e, comandadas pelo arcebispo de Braga, indignaram-se com a fraude e garantiram que vão impedir que se repita.

Pergunto eu:
Porque é que se metem onde não são chamadas? Não deviam antes regozijar-se por as suas ovelhas não se tresmalharem, não viverem «amancebadas», mas sim abençoadas por um dos seus sete sacramentos? São agora também polícias da Segurança Social junto dos cidadãos? Deixem-nos resolver as suas fraudes com quem de direito.

Afinal, a única desgraça destes piedosos noivos é serem portugueses.
Porque o verdadeiro problema real desta história toda é o facto de o casamento católico ter, em Portugal, efeitos civis. Haverá alguma boa razão para que isto se mantenha apesar da separação entre Igreja e Estado? Se há, não vislumbro qual seja.

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P.S. – As práticas da Igreja perante este tipo de situações (que implicam crentes não casados, divorciados, etc., etc.) é de uma tal crueldade que talvez volte ao assunto. Até porque me andou por perto, já que esteve na origem do divórcio dos meus pais, casados há mais de vinte anos.

24.9.07

Do you parlez português?


O jornal Púbico de hoje (sem link) resume as conclusões de uma conferência sobre línguas e oportunidades de negócio, realizada em Bruxelas no passado dia 21. Pode ler-se num comunicado à imprensa, da própria União Europeia, os objectivos do evento.

As principais linhas de força foram as expectáveis: não basta saber inglês, quanto mais línguas melhor, os ingleses até estão frequentemente em desvantagem porque desconhecem qualquer outro idioma que não seja o seu, os chineses estão a aprender línguas, etc., etc.

Acontece que, a propósito deste evento, vi uma entrevista na TV5, julgo que a um dos participantes da conferência (mas não percebi de quem se tratava), com uma ideia extravagante mas, no mínimo, original. Dizia ele que a melhor solução, numa Europa a 27, é que cada um vá tentando entender cada uma das outras línguas sem procurar falá-la, para não entrar num esquema hercúleo e inglório. A pouco e pouco, uma aproximação deste tipo permitiria que todos viessem a exprimir-se no seu próprio idioma, sendo compreendidos pelos restantes. Mostrava exemplos, mesmo escritos, com misturas de frases em inglês, italiano, francês, etc.

Se non è vero, è bene trovato - digo eu.

23.9.07

Autismos

A propósito da Festa do Avante, escreve-se, no Editorial do último número do órgão oficial do PCP, a seguinte frase:

«Quem estiver pela democracia, pela liberdade, pelos direitos conquistados em décadas de luta e defendidos nas décadas que se seguiram do 25 de Abril, saúda e participa e lamenta não poder lá ir.»

Leio, releio e pasmo. Como é possível que alguém escreva, a sério, coisas destas?


Eu não saudei, não participei, podia lá ter ido e não fui – e não lamento.
Mas sou pela democracia, pela liberdade e pelos direitos conquistados antes e depois do 25 de Abril. Ou não posso?

Budistas birmaneses



Cerca de 10 000 monges budistas, aos quais se juntaram outros tantos civis, desfilaram hoje em Rangoun contra o «despotismo militar» no país e o aumento do custo de vida, na maior manifestação desde que se iniciaram os protestos, em 18 de Agosto.


Hoje não lhes foi permitido passar em frente da casa de Aung San Suu Kyj, em prisão domiciliária desde 2003, ao contrário do que sucedera ontem. A prémio Nobel da Paz 1991 saiu então por breves instantes e chorou comovida.

Trata-se do maior movimento de protesto das duas últimas décadas, amplamente noticiado, por exemplo aqui